Quando ouvi falar de SandyAlê pela primeira vez fiz a mesma pergunta que você provavelmente fez ao ler o título desse texto: Sandy-o-quê? Aí vi a foto da moça e pensei: ela me lembra a Joss Stone com seus longos cabelos ondulados e loiros. Fiquei intrigada e meio descrente. Veja bem, todos os dias ouvimos música de todo canto do mundo. Algumas muito boas, outras nem tanto, mas a maior parte é coisa comum que você não vai mais lembrar na semana que vem, porque o comum é elegantemente descartado pelo nosso cérebro. Perguntei ao amigo que havia me indicado a tal SandyAlê: “o som dela parece com o quê?” (nosso cérebro pede referências, ele se baseia em similaridades). Meu amigo me deu um meio sorriso e disse: “É meio Céu e Mayra Andrade!” e completou com uma ordem: “Ouça!”
Baixei o EP e na metade da terceira música minha única pergunta era: como é que eu nunca ouvi falar dessa menina antes? Depois disso passei a indicação para algumas pessoas e vi o mesmo processo se repetir: “Sandy-o-quê?” (muitos cérebros buscando similaridades), fiz como meu sábio amigo e repeti para todos: “Ouça!”. E tive alguns episódios de déjà vu quando alguns voltavam para me perguntar: “como é que eu nunca ouvi falar dessa menina antes?”. Pois é! – respondo eu com o mesmo meio sorriso vitorioso.
Um no Enxame, EP de estreia da cantora sergipana SandyAlê, é daqueles discos viciantes. A começar pelos arranjos competentes, pela escolha cuidadosa dos timbres e pela mistura de ritmos como o gypsy jazz e o reggae somados a tambores africanos e ritmos sergipanos. Letras cheias de poesia, mas o grande destaque vai para a voz e o sotaque da moça, capazes de envolver qualquer ouvinte. Te desafio a cantar “A Fila” sem imitar o delicioso e marcante sotaque sergipano.

E assim o disco segue, faixa após faixa com ukulêlê, kazzoo (uma mistura de apito e instrumento musical), palmas, estalar de línguas quase imperceptíveis, violinos, sanfona, tudo mesclado mostrando o cuidado com os detalhes desse trabalho. Um no Enxame nos leva a um passeio da elegância francesa cantada em “Taurina” até a contemporaneidade dos sintetizadores e texturas usados nos instrumentos, mas deixa claro que é sergipano, tem a maresia de Aracaju e a aridez do sertão. Nos remete à pés descalços, casa de taipa e cheiro de terra seca recém molhada pela chuva que finalmente cai, sem deixar de ser urbano e contemporâneo. O clipe de “O Cheiro e a Flor”, filmado na Bélgica, não precisou de grandes efeitos ou produção elaborada para mostrar a doçura de menina da cantora num reggae contagiante de refrão tão fácil que poderia estar tocando em qualquer rádio.
Hoje ela é finalista do Natura Musical – edital que já se tornou uma das grandes plataformas de música independente do país – juntamente com mais quatro concorrentes, três deles do nordeste e um de São Paulo. Mais uma prova do talento e do quanto o trabalho dessa sergipana é promissor. Para dar seu voto, clique aqui!
SandyAlê chega para não ser esquecida e entrar na playlist dos mais variados e exigentes gostos. Vai na contramão das referências e conquista um espaço próprio. Pode ter nome de cantora que foi ídolo de uma geração inteira ou aparência de uma das melhores cantoras da atualidade, mas tem sonoridade, voz e personalidade únicas. Não se parece com ninguém, SandyAlê é inconfundível.