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As dores e delícias da maternidade

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A maternidade e eu não tivemos um amor à primeira vista, como se espera de uma mãe “normal”. Foi um processo de aceitação e de construção. Eu era nova e o fato de me tornar mãe surgiu como uma sentença negativa. Tive planos adiados, sonhos interrompidos e muitas responsabilidades para digerir.

Maternidade e o ser mãe.
Ser mãe nem sempre é padecer no paraíso. Foto: Reprodução

Não, não tive uma síncope maternal ao olhar o rostinho lindo da minha filha naquela sala fria de hospital. Era tudo tão novo… Novas dores, novos sabores, novas situações. De repente eu tinha uma florzinha delicada e totalmente dependente de mim, logo eu, que ainda estava aprendendo a me cuidar, me vi com outra parte de mim com tantas necessidades e demandando tanta atenção.

Amamentar foi um caso à parte, se tornou um pesadelo! Chegava empurrar minha bebê para longe quando meu marido vinha entregá-la a mim, com fome e aos prantos. Choramos juntas. Ela precisava do leite e eu não sabia como fazer isso por ela da forma bonita e natural que eu achava que deveria ser. Uma vez, reclamando para um amigo a respeito disso ele me disse: “uai, mas não é só colocar a boca da criança no peito?” Eu também pensava que era simples assim até ter que fazer isso e ver meu bico rachado, sangrando e sentindo uma dor lancinante que me roubava lágrimas, pudor, paz, sono e o sonho de amamentar.

Abandonei esse “ato de amor” cobrado de todas as mulheres e vi olhos acusadores sobre mim. Ou era isso ou a minha sanidade. Então o amor foi chegando, devagarzinho, a cada risadinha, a cada estímulo respondido. E assim, com um passinho de cada vez, o amor foi sendo construído, alimentado e transformado.

Desde então, eu não julgo nenhuma mãe, ou pessoa. Você pode amar ou não estar grávida. Você tem o direito de escolher seu parto de acordo com o que considere o melhor para o seu corpo. Se não conseguiu amamentar, ok, se conseguiu, parabéns! Se você não se emocionou durante seu parto ou não se sentiu plena no momento em que viu seu bebê, está tudo bem também. Nós já somos cobradas demais por terceiros em todos os moldes da vida, então, pare de se cobrar tanto. Sim, nós mulheres somos biologicamente aptas para gerar e dar à luz um bebê, todo o resto vem da construção do ser social que a mulher carrega. E se não concorda, você tem o direito também. Eu sigo daqui, errando, aprendendo e sendo a melhor mãe que eu posso.