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A Menina Submersa: Memórias

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“O trabalho cuidadoso de Caitlín R. Kiernan é nos guiar pela mente de sua personagem India Morgan Phelps, ou IMP, uma menina que tem nos livros os grandes companheiros na luta contra seu histórico genético esquizofrênico e paranoico. Filha e neta de mulheres que buscaram o suicídio como única alternativa, IMP começa a escrever um livro de memórias para tentar reconstruir seus pensamentos e lutar contra o que seria ‘a maldição da família Phelps’, além de buscar suas lembranças sobre a inusitada Eva Canning, sua relação com a namorada e consigo mesma, que evoca em muitos momentos a atmosfera de filmes como Azul é a Cor mais Quente (Palma de Ouro em Cannes, 2013) e Almas Gêmeas (1994), de Peter Jackson.

Considerado uma ‘obra-prima do terror’ da nova geração, o romance é repleto de elementos de realismo mágico e foi indicado a mais de cinco prêmios de literatura fantástica, e vencedor do importante Bram Stoker Awards 2013.”

Edição de colecionador do livro A Menina Submersa: Memórias.
© DarkSide Books

[…] Temos ficções necessárias, e às vezes elas nos tecem. […]

Com venda proibida em Portugal, Angola e Moçambique, o livro A Menina Submersa é um tipo de publicação que talvez eu nunca tenha lido.

A edição de colecionador foi impressa em capa dura, onde escamas são “reproduzidas” em torno de uma libélula, que a mim, deu a impressão de estar presa em um espelho. Já as bordas, apesar de coloridas, têm o mesmo cheiro bom de um livro novo. E não desbotam! Não é maravilhoso?! E as páginas… Ah, as páginas… (suspiros… muitos suspiros…). Um projeto gráfico maravilhoso da Retina 78, em parceria com a (MA-RA-VI-LHO-SA) editora DarkSide.

As várias páginas que antecedem o início da história de fantasmas narradas por IMP, foram impressas com ilustrações (em preto e branco) delicadas e fortes. Em um dos capítulos, as lacraias que perturbam a cabeça de IMP, passeiam por algumas páginas e somem delas quando somem da cabeça de IMP. Achei isso um cuidado maravilhoso!

Por último e não menos importante, a DarkSide presenteia o leitor com um marcador de páginas de cetim, que tem a mesma cor das bordas. Demais, né?!

Edição de colecionador do livro A Menina Submersa: Memórias e marca página.
Foto: Reprodução

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Logo no início, IMP me impressiona com sua “analogia” sobre começo e fim. Algo sobre o qual eu nunca havia pensado, mas faz muito sentido para mim.

[…] Todos os começos são arbitrários. […]

Durante todo o livro, me perguntei o que é na verdade A Menina Submersa. No início achei que era uma tela, mas depois desisti de tentar entender do que realmente se tratava, pois me surpreendi sendo envolvida por toda a história que a autora Caitlín R. Kiernan apresenta.

Envolvida pela personalidade sensível e confusa de IMP, que em vários momentos me fez associar suas análises à vida real, como por exemplo:

“[…] Fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagadas pelo tempo.”

E também quando ela narra a primeira vez em que viu a tela A Menina Submersa, e compara o acontecimento a janelas:

“[…] Elas permitem que você olhe para fora, mas também deixam que alguma outra coisa que aconteça olhe para dentro. […]”

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Outro aspecto da história que me cativou bastante, foi o gosto literário de IMP: Virginia Woolf, Charles Perrault, Grimm, Andersen. Para ela, são referências marcantes e que a ajudam a narrar a história (com) Eva Canning.

À medida em que a história avança, descobri IMP insegura, sensível e passional. Não foi fácil decifrar essa personagem (e nem sei se de fato consegui), mas foi uma delícia.

A forma como a autora insere assuntos atuais como orientação sexual e esquizofrenia, em uma literatura fantástica (que é novidade pra mim), é maravilhosa!

Uma das melhores comparações, em minha opinião, é quando IMP fala sobre a Floresta do Suicídio. Nesse capítulo ela fala sobre como o mundo está cheio de sereias, e que no caso dela, a dra. Ogilvy (sua psiquiatra) e os remédios que ela prescreve são suas ceras de abelha, que a protegem do canto das sereias.

[…] Sempre há um canto de sereia que te seduz para o naufrágio. […]

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Eu sempre quis ter os livros da editora DarkSide. Desde quando eu trabalhava na livraria Leitura. Quando essa edição maravilhosa de A Menina Submersa chegou pra mim, com toda pompa e circunstância de que a DarkSide é capaz, já fiquei ansiosa para fazer esse texto, porque não é um livro comum. A história de Imp e de suas amantes não é comum. A forma como Caitlín R. Kiernan escreve, é no mínimo transformadora.

A sensação de ler um livro assim, é maravilhosa! Um livro feito com todo cuidado, todo delicado, robusto, bacanudo… dotado de um texto profundo, atual, rico e maravilhoso.

Ah! Ainda em tempo, a edição brochura de A Menina Submersa também é extremamente bem feita. Capas lindas e com orelhas. Sem deixar de mencionar que as páginas ilustradas também foram publicadas nesta versão.

[…] É terrível demais ter pensamentos que se recusam a se transformar em frases. […]

Capa do livro A Menina Submersa: Memórias, de Caitlín R. Kiernan.Ficha Técnica:

Título: A Menina Submersa: Memórias
Título Original: The Drowning Girl: Memories
Autor: Caitlín R. Kiernan
Tradução: Ana Resende e Carolina Caires Coelho
Editora: DarkSide Books
Lançamento: 2015
Gênero: Fantasia

Nº de Páginas: 317
Formato: 14 x 21 cm
Acabamento: Capa Dura
ISBN: 978-85-66636-53-6
Valor: r$ 49,90
Nota: ? ? ? ? ?

Colaboração: Ludymilla Duarte Borges