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ARIANA

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Igor Gielow (a pronuncia correta é “Guilôf”, conforme o autor ensinou ao Jô Soares em uma entrevista) faz sua estreia como escritor com um romance ambientado no Paquistão, cujo personagem principal é Mark Zanders. Um brasileiro naturalizado inglês correspondente da agência inglesa virtual de notícias Final Word.

Igor Gielow (à direita), autór do livro Ariana, em noite de autografos. Foto: Reprodução
Igor Gielow (à direita) em noite de autógrafos. Foto: Reprodução

Já há algum tempo trabalhando no Paquistão, em 2001 Mark teve a sorte de conseguir um fixer muito útil e competente: Waqar. Ele sabia de tudo o que acontecia na política local: antecipava informações sobre entrevistas coletivas e tinha a agenda telefônica mais desejada de Islamabad (capital do Paquistão).

Além de fixer, Waqar se tornou um grande e único amigo de Mark em Islamabad. Mas no final de 2007, durante um café da manhã no Margalla Hotel, o prédio sofreu um atentado. Mark teve a perna gravemente ferida, mas Waqar não resistiu aos ferimentos. Antes de morrer, ainda nos escombros deixados pelo atentado e nos braços de Mark, Waqar pediu a ele que encontrasse alguém que atendia pelo nome de Ariana.

O que Mark não sabia, era a origem da preocupação do amigo que estava prestes a falecer. O nome Ariana estava escrito em letras negras, na capa de um caderno rosado que Waqar encontrou em uma casa bombardeada em 2005, e que ficava em Muzaffarabad. A capa do caderno estava ao lado de um corpo jovem, aparentemente 16 anos, já em decomposição.

***

Ainda durante a sua recuperação no hospital de Islamabad, Mark recebe a visita de Elena, sua atual ex-namorada. Elena ainda estava lá, quando Mark recebeu alta hospitalar! E quando chegaram no quarto do pequeno hotel, que ficava na mesma rua da Islamabad Club Road, Mark a agradeceu por ter cuidado dele até ali:

[…] Sei que acabamos de forma ruim, e que não nos falamos direito quando viajei. […] Mas não se preocupe, não quero que você se sinta pressionada a cuidar de mim. Não estamos mais juntos, sei disso e sei porque isso é assim. […]

Quando Mark termina seus agradecimentos a Elena, ela desaba em prantos na cama mas, de uma forma inexplicável, ele já sentia o que ela tinha a dizer e, por isso, não reagiu ao anúncio: “Mark, estou grávida.”

Sobre Mark, pude notar que é um personagem nitidamente confuso emocionalmente, e que direciona isso para o trabalho. Isso ficou bem claro pra mim quando ele voltou para o Paquistão após o “abandono” de Elena, que levou consigo o filho do casal. Mark me pareceu canalizar toda a frustração em desvendar o mistério sobre Ariana e tentar ajudá-la.

Em meio às conspirações políticas, serviços secretos americano e paquistanês e romances proibidos, Gielow me guiou por um mundo completamente desconhecido por mim, com uma riqueza histórica de detalhes impressionante. Além disso, me apresentou a um personagem com inúmeros questionamentos emocionais e com excelente gosto musical.

Ariana é um livro muito bem escrito e informativo. É possível identificar a paixão pelo jornalismo, pelo Paquistão e pelos personagens. O desenrolar da história é inquietante, excitante e surpreendente.

Um booktuber disse em um vídeo que não viu necessidade de tanta importância para os casos amorosos e sexuais de Mark. Eu discordo veementemente, pois acho que isso, além de expor (de forma NÃO enfadonha) a personalidade do personagem principal, também faz com que o leitor se identifique e empatize com ele.

A forma como o autor conduz toda a ficção, expondo fatos históricos de uma região tão castigada pelo fundamentalismo religioso, por intervenções militares estrangeiras, mortes diárias, sem expor detalhes da consequência dessa violência, é muito enriquecedora culturalmente.

Igor Gielow apresenta uma trama rica cultural e emocionalmente. Tanto é que, assim como Mark, tenho ânsia de vômito só em pensar nos chás gordurosos servidos em praticamente qualquer ocasião naquela região, como narra o autor.

Na minha opinião, Ariana é um livro do qual deve se sugar todas as informações disponíveis. É um livro conciso, histórico e, na mesma proporção, sensível.

P.S.: amei a praticidade das transcrições dos diálogos! Muito dinamismo envolvido! 😀

Para encerrar, um trecho do livro para que os leitores (ainda tem alguém aí?) reflitam um pouco sobre o Estatuto do Desarmamento (ou o fim dele):

[…] Mark a pegou [pistola calibre 45], era de fabricação brasileira – os governos em Brasília não gostam muito de propagandear a informação, mas o país é dos três maiores fabricantes de armas leves do mundo, o que costuma não combinar com sua propalada índole pacífica e imagem de paraíso da tolerância, malemolência e compaixão baseada nos desígnios da carne. […]

Capa do livro Ariana, de Igor Gielow.Ficha Técnica:

Título: Ariana
Autor: Igor Gielow
Editora: Record
Lançamento: 2015
Gênero: Romance Brasileiro

Nº de Páginas: 350
Formato: 16 x 23 cm
Acabamento: Brochura
ISBN: 978-85-01-10431-1
Valor: r$ 42,90
Nota: ? ? ? ?

Colaboração: Samuel Christian