Eu que sempre desejei algo mais doce, tenho enjoado com facilidade. Depois de uma overdose de açúcar, doces, chocolates, bolos, e inúmeras sobremesas de nome que nem sei pronunciar corretamente, o que mais chama a atenção diante do aumento do volume corporal não são as gorduras localizadas, as celulites ou as roupas coladas no corpo. O que mais incomoda é o olhar alheio.
Quando estou eu assustada diante de tanta vaidade, muito mais de quem me olha do que minha propriamente dita. Falta perceber algo tão simples, mas que não está no meu corpo, nem no meu rosto, ou nos meus cabelos longos, está no meu olhar. Como ia dizendo, o meu olhar não engordou. O que mais influencia o olho gordo é a vaidade. É Laila, Laila, quase Leila, mas é Laila. Séria, enfezada, não sei como você me olha, mas meu nome é Laila, com ‘a’. Não sei porque algumas pessoas enxergam um ‘e’ em meu nome. E defeitos que muitas vezes não existem, fazendo “correções” constantes e muitas vezes desnecessárias.
São tantos motivos aleatórios que determinam a vaidade – o uso exagerado de anabolizantes para construir um corpo escultural, excesso de atividade física, dietas inconsequentes, anorexia, bulimia, cuidados exagerados com a estética para disfarçar as imperfeições. A busca obsessiva pela perfeição, que serve como analgésico ou consolo pelas vezes que não foi percebida – aquela paquera que não rolou na boate, na faculdade, no barzinho. Imagino quantos fantasmas apontam o dedo para suas ‘imperfeições’, dão gargalhadas altas das suas formas corporais que não se enquadram numa imagem preconcebida pela atualidade. O resultado é uma leve insatisfação disfarçada, combinada com o medo de ser rejeitada.
Esses dias me peguei sorrindo ao lembrar de alguns conceitos infundados sobre a minha figura humana. Conviver diariamente sob um olhar crítico e exigente que revela uma opinião um pouco depreciativa da sua aparência não é confortável. Ainda mais quando esta opinião é associada a sentimentos, não há como evitar o derramamento de lágrimas, que podem até virar mágoas. Que visão deturpada é essa de que devemos ser perfeitos em tudo, qualquer pequeno detalhe que não implique nessa “perfeição” que a mídia impôs como padrão.
O mais engraçado porém é que antigamente, estar acima do peso ideal era o estereótipo de beleza, porque transmitia a ideia de saúde e bem-estar. Afinal de contas, saciar desejos é bom demais. Mas hoje, o estereótipo de beleza é bastante diferente, temos que superar vontades e desejos. Pois o belo hoje é estar dentro do peso considerado ideal, em forma física, magra e malhada, esculpida em forma de músculos. Será que é por isso que algumas pessoas ainda comem com os olhos, ao invés de beijar na boca, fechar os olhos e ser feliz?