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Eu também já fui enganada por um fake

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Recentemente a Internet foi surpreendida com a história de Eduardo Martins. O surfista bonitão e fotógrafo que registrava alguns dos conflitos em regiões que estavam em guerra. Eduardo tinha um perfil com mais de 100 mil seguidores no Instagram e postava diariamente fotos de sua rotina e das viagens que fazia pelo mundo. Eduardo até existia, mas não era exatamente o que ou quem dizia ser. E ele enganou muita gente, inclusive de grandes veículos de comunicação nacional e internacional.

Fake news ou notícias falsas.
Foto: Reprodução

Agora, imaginem que o cara investiu dois anos de sua vida pra criar e manter um fake. Quando a gente para pra pensar seriamente nisso, não faz o menor sentido, não é? Bom, a questão é que fiquei muito impactada e curiosa com pelo desfecho desse caso porque eu também já fui enganada por um fake. E hoje vou contar essa história pra vocês.

Pois é galera, por incrível que pareça eu também já tive um Eduardo em minha história. Eu o “conheci” no final de 2008 através do finado Orkut. Me mandou uma solicitação de amizade e eu, que tava na maior bad porque tinha levado um pé na bunda recente, aceitei. O cara era bonito, um loiro cabeludo, com cara de nerd charmoso. Ele falou que era psicólogo e morava na Alemanha. Eduardo também fazia parte de uma banda, gostava de rock, leite com canela, tocava saxofone e violino. Segundo contou, trabalhava em uma multinacional e seu trabalho exigia algumas viagens mundo a fora, tipo pra França, Londres e às vezes Brasil.

Esse cara que, assim como o Eduardo do começo do texto, obviamente existia. Mas até hoje eu nunca tive certeza do grau de envolvimento dele na teia de mentiras que eu caí. Ele era basicamente perfeito, tudo que eu queria, ou achava que queria. Dizia as coisas certas, no momento certo, me entendia, gostava do que eu gostava, entre outros detalhes muito convenientes que se eu fosse mais espertinha teria sacado.

Além disso, a gente só se falava por e-mail (quem nessa Terra tem um romance exclusivamente via e-mail?), raramente ele estava online no MSN ou Google Talk, telefone ou mensagem de voz, nunca… Sinais e mais sinais. Quando lembro me sinto meio “Caralho, Blue Ivy”.

Bom, o cara tinha poucos amigos, poucas fotos e poucos scraps. Sinais que não prestei atenção. Eu até questionei algumas coisas no começo, tipo “que comunidade ele me encontrou?”, tendo em vista que ele surgiu do nada. Mas acho que parei as especulações por aí. Naquela época eu não estava atenta aos perigos dos sedutores da Internet (rindo de nervoso).

A nossa troca de e-mails era diária, mas ele contava bem menos coisas da vida dele do que eu da minha. Eu queria vê-lo ao menos por vídeo, mas ele se esquivava por “não se relacionar bem com tecnologia” (ata). Depois de um tempo ele contou que o seu perfil no Orkut tinha sido fruto do seu TCC, um experimento social, digamos assim. Daí a justificativa para tão poucos amigos adicionados. Achei estranho, mas acreditei. Ah e a comunidade que segundo ele tinha me encontrado era uma do disco OK Computer, do Radiohead. Tudo bem meio costurado porque eu realmente fazia parte dela.

Em um dado momento de nossa troca de e-mails ele resolveu “se abrir” mais. Eduardo me falou que tinha 26 anos, era órfão de mãe e estava se recuperando de um recente câncer (pelo visto os fakes amam essa doença) é que ele quase já tinha casado.

Essa troca de e-mails deve ter durado uns seis meses mas um dia ele simplesmente sumiu. Eu fiquei desolada porque não conseguia entender como algo que parecia ser tão intenso de repente se tornar tão etéreo.

Depois disso eu fiz um pequeno esforço pra seguir a vida porque naquele ano tava beirando uma depressão. Pra vocês terem uma ideia eu assisti Crepúsculo 8 vezes, sendo que minhas distrações eram os livros da saga e os discos dos Los Hermanos que não tirava do repeat.

Em alguns momentos eu ainda pensava naquele cara que eu passei a chamar carinhosamente de Duda. Mas aí, do nada fui surpreendida. Um amigo me procurou e me contou algo que me fez sentir a pessoa mais ingênua do mundo e questionar minha fé na humanidade. Eduardo era na verdade uma moça. Sim, é isso mesmo. Eu fiquei tipo “what?”. Ele me explicou: a moça em questão admitiu ter criado o perfil pra me conhecer e saber se eu ainda tinha pretensão de voltar a namorar a pessoa que namorava com ela até então. Eu pensei “não tô acreditando que alguém tenha dedicado tanto tempo de sua vida pra isso”. Mas sim, foi o que aconteceu.

Minha primeira ação foi responder a um dos últimos e-mails de Eduardo me direcionando a ela, chamando-a pelo nome. Lembro que na época passava Caminho das Índias e lá tinha uma personagem dissimulada chamada Ivone e eu a comparei a ela. Para minha completa desolação, a moça respondeu admitindo a farsa e, de certa forma, se justificando que ela era insegura e precisava ter certeza de que não perderia seu então amor pra mim. Por isso tinha criado toda aquela rede de mentiras. E pior, segundo ela o verdadeiro Eduardo havia emprestado o perfil pra ela fazer isso. Cara, que tipo de gente faz isso?

Depois de um tempo eu percebi que o mesmo Eduardo estava trocando scraps com uma outra menina no Orkut. Fiz uma breve pesquisa e descobri que a menina era amiga do noivo da “falsa Eduardo”. Ou seja, essa era uma tática dela para sondar pessoas que poderiam ameaçar (na cabeça dela) seus relacionamentos. Apenas desejei poder indicar um psicólogo a ela. Mas só alertei a nova vítima porque ninguém mais merecia ser enganada como fui. Detalhe: o Eduardo mandou um e-mail pra mim (dizendo ser o verdadeiro) falando que era ele não ela que estava usando o perfil. Aham!

Pra mim a história acabou ali. Mas acreditem, apesar de ter achado aquilo muito pesado pra lidar eu aceitei a solicitação de amizade dela quando entro no Facebook. Eu achava que era uma boa monitorar pra ver se ela aprontaria com mais alguém. Mas depois de um tempo larguei mão.

Até hoje não sei quem é o Eduardo real. Confesso que tive vontade de conhecer, mas depois achei isso tudo tão macabro que acabei desistindo. Na época eu fiquei tão envergonhada por ter sido ingênua daquela forma que decidi esquecer e fingir que nada daquilo tinha realmente acontecido. Lembro de contar pra três amigas e só. Segui com a vida.

Esse mês quando li a história cinematográfica de Eduardo Martins, não pude deixar de relembrar o meu episódio com o Eduardo fake. É bizarro saber que ninguém está livre de ser enganado por alguém na Internet. E o quanto existem pessoas dispostas a deixar de viver suas próprias vidas pra se lançar em uma vida de mentiras e ilusões. Tá aí, algo que nunca vou entender.

Pra finalizar, fica a dica: cuidado com os sedutores da Internet.