O homem que não sabia abraçar

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Ninguém compreendia porque aquele jovem rapaz era tão introspectivo. Ele andava sempre vestido com um sobretudo escuro e uma calça jeans folgada. Se escondia do mundo e se revelava para poucos, os poucos que sabiam de sua dificuldade. Nos arredores da cidade ele era conhecido como ‘o homem que não sabia abraçar’. Era visto com desconfiança pelas pessoas. Escrevia coisas estranhas sobre o universo em um diário virtual que poucos conheciam. Esses escritos e sua vida pouco agitada chamaram a atenção de uma jovem garota, e desde então, ela resolveu procurá-lo.

Homem solitário (alone in street).
Foto: Reprodução

Intrigada sobre o que tinha acontecido com ele, a garota decidiu investigá-lo, e sobre o pretexto de que havia gostado das coisas que ele falava em seus textos, ela envio-lhe uma mensagem, dizendo ser apenas uma admiradora de seus escritos. Dias depois ele a respondeu. A conversa entre os dois passou a ser quase cotidiana. Falavam sobre diversos assuntos, e sempre que ela perguntava algo sobre ele, vinha uma piada ou um trocadilho como resposta. Quase sempre as piadas faziam ela rir e a tela se enchia de “kkkkk”. Os dois tinham interesses em comum, conversavam dia e noite, nunca sendo algo cansativo. Marcaram um encontro.

Era noite e ela estava com medo de ir sozinha. A voz dele ao fundo dizia: “não quero assustá-la”. Ele chegou mais perto e seu rosto foi parcialmente iluminado sob a luz de um dos postes da praça de alimentação a céu aberto onde estavam. A jovem garota não sabia o que ele tinha e o que o deixava com aquele olhar profundo em direção a ela. Tudo era tão estranho, e ao mesmo tempo, libertador. Só o sorriso daquela jovem conseguiu quebrar o ar sério do rapaz. Se despediram após uma curta conversa, e foram embora com a mesmo rapidez da chegada.

Os encontros continuaram cada vez mais frequentes e divertidos. Quase sempre o sorriso dela alegrava o dia do rapaz, e logo ele se descobriu naquela jovem. Seus dias começavam a fazer sentido, e a cada novo encontro seus olhos tristes brilhavam mais e mais. Permanecia apenas o medo de se tocarem, e ela começava a descobrir o que o deixava triste e aflito. Por mais que quisesse, algo o impedia de abraçá-la. Seus braços ficavam imóveis, escondidos por baixo do sobretudo escuro. Ela tinha vontade de avançar mais perto dele, mas sempre exitava.

Ela era diferente. Parecia não se incomodar com as dificuldades do rapaz. No fundo ela enxergava o homem que havia por traz daquele jeito tímido, e sabia que com um simples olhar ele era capaz de abraçá-la como ninguém o fez antes. Os dois se atraiam constantemente, mas ele não conseguia tocá-la, por mais que tentasse.

Apenas um toque os separavam. Até que um dia ele resolveu deixar um bilhete debaixo da porta do quarto daquela mulher que não saia de seus pensamentos. Era um envelope lilás clarinho com os dizeres: “EU QUERO VOCÊ!”, anotado no verso. Ela abriu o pequeno envelope e começou a ler o bilhete…

EU QUERO VOCÊ! Não por um dia só, e sim, por todos os dias da minha vida. Eu quero te preencher por inteira.odeio vê-la viajando por outras bocas. Não me conformo com o fato de não poder te tomar em meus braços e não deixar mais você respirar sozinha.

Eu sei que não consigo roubar um beijo teu, e isso me deixa atordoado. Parece que algo tá sempre me testando. Sei que só vou conseguir te tocar se você me tocar primeiro. Eu sei que só vou conseguir te abraçar se você também me abraçar. É difícil aceitar que eu só posso te beijar se você chegar mais perto e também me beijar. Entre eu e você, existe apenas um toque de distância.

Mas ela ficou confusa com seus próprios sentimentos e resolveu partir. Mudou-se de cidade, sem deixar pistas de seu paradeiro. E por mais que ele a quisesse, nunca ouviria a voz dela dizendo: “Você é tudo o que eu sempre quis!”.