No dia 05 de maio deste ano (2014), fomos impactados com a chocante notícia de que uma mulher morreu ao ser linchada após confundida com uma pessoa acusada de sequestrar crianças para rituais de magia negra. O linchamento aconteceu por populares que receberam estímulo raivoso através de uma fan page – página no Facebook – que incitou diariamente um chamado odioso à violência, tornando pessoas comuns numa horda de assassinos emotivos que, para defender suas convicções, eram capazes de tudo: ferir, gritar, espancar até a morte.
Notaram o título deste artigo? Direto e objetivo. ‘Dedo em riste’ é o elemento visual da marca que vem moldando a opinião pública nos últimos 5 anos, tornando os comentários da internet nos dias de hoje, cada vez mais agressivos e repletos de baixaria.
Este novo molde de ‘vox populi’ começou a aparecer aos poucos. No “falecido Orkut”, as agressões não eram assim tão evidentes e permaneciam reclusas às comunidades onde pessoas se reuniam para debater em fóruns sobre determinados assuntos.
Com a diversificação da rede social, sobretudo o Twitter – cujo principal objetivo é colocar uma frase curta, objetiva e que seja contundente o bastante para virar destaque entre milhares para receber a devida notoriedade -, as expressões fortes, diretas e impactantes começaram a ficar cada vez mais “apreciadas” e frequentes.
No Facebook, o espaço para postagem é proposto por um robô que demonstra interessar-se em saber a sua opinião “o que você está pensando?”, enquanto no Instagram, cada foto está disposta para receber abertamente o seu veredicto, seja ele qual for.
Qualquer meio de comunicação onde algum emissor se comunica é como a casa do mesmo, para comentar em cima de um pensamento de outrem, primeiro devemos bater na porta, nos apresentar e então, colocar nossa ideia educadamente, ainda que seja divergente. As divergências enriquecem a experiência e o saber, mas é preciso que seja uma locução respeitosa.
Hoje, o pretexto é “se está na rede social é para se expor, não reclame”. Perdeu-se completamente a noção de senso moral e limites de que, ao deixar uma mensagem agredindo outra pessoa, você está mostrando ao mundo nada mais além da sua completa falta de educação (ainda que receba 1000 likes por isso), só reforça que há outras 1000 pessoas com a mesma má conduta.
Analisando o marketing digital é possível notar que as opiniões começaram a se tornar mais agressivas de 2009 em diante. Muitos são os fatores que vêm contribuindo para essa mudança de comportamento e o nascimento deste novo perfil: os “pitbulls de internet”.
Além da força das redes sociais, também o rápido avanço da tecnologia permitiu que as pessoas passassem mais tempo conectadas (17 horas do seu dia) via Android, gerando índices ainda maiores de ansiedade e inventando uma nova forma de comunicação, impune e digital, que vem promovendo uma verdadeira descarga emocional online de frustrações a tão discutida geração Z – indivíduos preocupados cada vez mais com a conectabilidade junto aos demais, de forma permanente -, permitindo assim, que se expressem sem bater, com dedo em riste, com mensagens contundentes, julgando preconcebidamente, como se o mundo todo precisasse realmente saber no que você está pensando em alto e bom tom.
E haja trabalho para os profissionais da assessoria de imprensa, marketing, relações públicas que hoje enfrentam um novo personagem, são os hate watch (observadores odiosos) ou simplesmente haters (odiadores) – pessoas em tom odioso que deixam declarações que poderiam, facilmente, receber processos por calúnia e difamação, não fosse esse, um crime virtual numa Terra ainda em desenvolvimento legal.
Só nos resta ficarmos à mercê da moral, ética e bons costumes individuais ou ainda, não darmos declarações públicas se a nossa opinião não estiver estritamente em consonância com a grande maioria. Isso é o que te aconselho se não quiser ser notificado de 5 em 5 segundos para ler coisas do tipo: “burro, mal informado, gente da tua laia, FDP, e coisas ainda piores” – cyberbullying, opressão, constrangimento.
Um exemplo claro disso é: quantos hoje em dia ousam deixar um comentário político contrariando a opinião geral que concorda que este ou aquele candidato é bom ou ruim? Quantos seriam contra uma ideia concebida por 80% da população?
A voz do povo é a voz de Deus? Nem sempre. Sobretudo na comunicação de massa, a voz do povo pode ser apenas a manifestação da publicidade e a revolução silenciosa que forma Black blocs virtuais. Todos falam da massa, mas ninguém se julga parte dela.
Já dizia Walter Lippmann: “Quando todos pensam a mesma coisa é sinal de que ninguém está pensando.”
Mas a verdade é que sempre haverá alguém pensando pela maioria, mas não será com o dedo em riste que descobriremos quem detém a razão. Aliás, o dedo já é sinal de excesso de emoção. E neste caldeirão de pessoas emotivas, está aberta a temporada de linchamentos virtuais.