Em uma das minhas andanças pelo mundo, fotografei despretensiosamente meus pés sobre a calçada do bairro de San Telmo, em Buenos Aires – Argentina. Sempre tive um carinho enorme por este click, apesar de ser rejeitado por tantos olhos clichês. Sim, a primeira vista parece uma foto comum e simplória. Mas, veja bem, eu sou daquelas que olha por onde pisa. E, vou além, admiro o passo a passo da minha caminhada. Sempre gostei dos ladrilhos antigos, azulejos, lajotas, mosaicos coloridos e calçadas de pedra.
Passados alguns anos, agora nas minhas andanças pela web, deparo-me com um projeto fotográfico coletivo e colaborativo intitulado “Chão Que Eu Piso”. A ideia surgiu em 2013, quando a jornalista Paola Carvalho, apaixonada por detalhes arquitetônicos, começou a fotografar os pisos dos prédios que visitava em Belo Horizonte e por onde viajava. Nas redes sociais, amigos ao notar a predileção, começaram a contribuir, enviando fotos dos pavimentos que achavam interessantes. Com a parceria da jornalista e designer Raíssa Pena, colega de redação na revista VEJA BH, foram criados perfis no Facebook e no Instagram. A partir daí, pessoas do mundo todo aderiram ao projeto. Já são mais de 200 registros próprios e 6.000 fotos de pisos históricos enviadas de cidades brasileiras e de outros países, como México, França, Espanha, Itália, Israel, Polônia e Japão.
O projeto é de uma simplicidade encantadora e ao mesmo tempo enriquecedora, por compartilhar com o mundo verdadeiras obras de arte. A cultura literalmente aos nossos pés. E cada passo dado, o chão nos convida a olhar por onde pisamos e nos mostra os detalhes históricos do caminho que outro alguém já seguiu. Muitas vezes distraídos, caminhamos sem perceber que bem debaixo de nós existe uma riqueza de grande valor cultural.
Deveria então, enviar minha “fotografia clichê” para esse sensível projeto que sabe ver com outros olhos? E você? Já fez algo com um sentimento puro mas julgaram que era ‘clichê’ por não saber sentir a sua arte? A vida tem me mostrado que devemos ter os pés bem firmes no chão, observando cada passo (que pode ser em falso), então devemos ser cuidadosos. Mas os nossos sonhos devem ter asas sempre prontas pra voar ao encontro da realização. Acredite sempre no seu potencial. Caminhe, realize!
PS: Outros “passos” podem ser vistos através do site do projeto.