Esses dias estava assistindo o Jornal da Globo e uma reportagem que mostrava um episódio de racismo contra o jogador Arouca e outro contra o árbitro Marcio Chagas chamou minha atenção. Fiquei ouvindo sobre como eles foram desrespeitados e meu coração apertou. São coisas como essas que me fazem crer que somos um país de racistas enrustidos. Assistir a 12 Anos de Escravidão fez lembrar que essa triste época pode ter sido encerrada com a Abolição da Escravatura, há 126 anos, mas que o racismo ainda existe, seja ele velado ou explícito.
O ano é 1841, Solomon Northup (Chiwetel Ejifor) vive em Nova York ao lado da esposa e dos filhos. Ele é um músico conceituado e leva uma vida tranquila até receber uma proposta de trabalho para tocar violino em um circo itinerante. Ao aceitar a proposta ele cai em uma trapaça, tendo sido ludibriado por seus supostos contrantes, que na verdade o vendem ilegalmente para um capataz que o leva para ser revendido.
Sequestrado e acorrentado, ele é vendido como escravo e precisa superar humilhações físicas e emocionais para conseguir sobreviver a sua nova e triste realidade. Apesar de ter a consciência de ser um homem livre e letrado, Solomon se coloca em uma posição de complacência, mantendo a cabeça baixa em sinal de obediência constante. Ele sabe que precisa ser assim para continuar vivo e, quem sabe um dia, poder reencontrar a família que ama.
Ao longo de doze anos ele passa por dois senhores muito distintos, Ford (Benedict Cumberbatch) e Edwin Epps (Michael Fassbender). Ford é um senhor mais bondoso, gosta de tratar bem seus escravos, mas ainda assim tem consigo a ideia de que são apenas mercadorias. Já o senhor Edwin Epps faz questão de ser cruel com seus negros, sempre com a bíblia nas mãos para provar que sua soberania está nas escrituras. Com o senhor Epps, Solomon passa os piores anos de sua vida, sendo constantemente maltratado, espancado e vivendo sem nenhuma dignidade.
Com a direção de Steve McQueen, 12 Anos de Escravidão é um retrato nu e cru dos absurdos vividos naquela era de trevas pelo qual o mundo passou. O diretor foi cuidadoso ao não cair em clichês, sem grandes frases de efeito, preocupando-se em dar enfoque a realidade da época da forma mais verossímil possível.
O roteiro, que foi uma adaptação do livro do próprio Solomon Northup, ficou por conta do competente John Ridley, que inclusive foi premiado no Oscar 2014 por seu magnífico trabalho. A fotografia, trabalho feito pelo parceiro de longa data de McQueen, Sean Bobbit, também é uma das características positivas do filme. A investida em planos detalhes, sempre com a câmera próxima a objetos e partes dos corpos dos personagens fazem com que o espectador sinta cada uma das cenas com mais intensidade.
Com um grande elenco, composto por atores experientes e também por iniciantes que acabaram sendo uma grande surpresa, como Lupita Nyong’o, 12 Anos de Escravidão é de longe o melhor filme realizado sobre o tema nos últimos anos. Além disso, a sintonia entre Chiwetel Ejifor, Fassbender e Lupita deu ao longa um tom de reconhecimento e empatia que levou muitos espectadores as lágrimas no cinema, seja pela tristeza, compaixão ou raiva sentida em cada passagem em que os três estavam atuando juntos.
Título Original: 12 Years a Slave
Título no Brasil: 12 Anos de Escravidão
País de Origem: Estados Unidos e Reino Unido
Gênero: Drama / Biográfico
Duração: 134 min
Ano de Lançamento: 2013
Estreou no Brasil: 21 de Fevereiro de 2014
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley (baseado na autobiografia homônima de Solomon Northup).
Estúdio: Regency Enterprises / River Road Entertainment
Distribuição: Fox Searchlight Pictures / Summit Entertainment
Site Oficial: www.foxsearchlight.com/12yearsaslave
Das nove indicações que recebeu, 12 Anos de Escravidão levou três, sendo alguns dos mais importantes da premiação: Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong’o), Melhor Roteiro Adaptado e, claro, Melhor Filme. Lembrando que McQueen é o primeiro cineasta negro a dirigir uma produção que venceu o principal prêmio de Hollywood. Antes de 12 Anos de Escravidão ele havia dirigido apenas dois filmes, Hunger (2008) e Shame (2011).
O Oscar foi merecido e 12 Anos de Escravidão vai ser lembrado para sempre por mostrar a história sobre uma triste realidade que deveria estar enterrada há anos, mas que continua muito presente na nossa sociedade.