Fui até o cinema assistir O Tempo e o Vento cheia de expectativas boas. Eu já tinha lido a obra de Érico Veríssimo e claro, estava muito curiosa para ver os personagens que sempre povoaram minha imaginação ali na grande tela. Capitão Rodrigo e toda sua imponência, Bibiana e seu romantismo velado, Ana Terra e sua imbatível força, Pedro Missioneiro e sua incrível capacidade de cativar as pessoas. Todos eles brotavam em minha mente cada vez que eu relembrava os momentos dedicados à leitura de cada página. Lembrando que não sou crítica ou especialista em cinema, estou apenas deixando para vocês as minhas impressões.
O Tempo e o Vento retrata a saga da família Terra-Cambará ao longo de 150 anos, acompanhando toda a sua genealogia em torno desse período. O Rio Grande do Sul no final do século XXI serve de cenário para contar a história da luta entre os Terra-Cambará e os Amaral na fictícia cidade de Santa Fé, sendo entremeada pela guerra por território entre as coroas portuguesa e espanhola. Todo o filme é narrado pela matriarca Bibiana (Fernanda Montenegro), que junto a presença de seu falecido esposo, Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda), relembra como nasceu a própria família Terra-Cambará.
O filme de Jayme Monjardim tinha tudo para ser um grande marco na história do Cinema Brasileiro, afinal, conteúdo não faltava para criar um grande trabalho. O diretor demorou sete anos para concluir a produção do longa metragem e levar a obra de Veríssimo para a telona. Mas o que eu vi foi apenas uma novela feita em grandes proporções. Não que isso tenha tirado o mérito da produção. O longa é bem feito, tem cenas visualmente bonitas, tudo bem que a locação favoreceu muito com a maioria das cenas sendo filmadas em Bagé-RS. A composição do figurino é aceitável, com suas devidas caracterizações gaúchas. E claro, as atuações de Thiago Lacerda e Fernanda Montenegro, que foram bem explorados pela direção de Monjardim.
Apesar da paisagem belíssima dos Pampas gaúchos, a fotografia deixou a desejar. Existem um excesso de closes fechadíssimos e planos-sequência abertos mal executados, como por exemplo, as cenas onde o Capitão Rodrigo lidera uma cavalaria de lugar nenhum para não se sabe onde, nunca chegando à guerra. A impressão que fica é que fizeram o que era mais fácil e não houveram muitos planos mais elaborados. Isso me deu bastante a sensação de estar vendo uma novela e não um filme. Fora que quase toda cena era cortada por um fade-out irritante. Outro fato que me chamou atenção, e não de forma positiva, foi Monjardim ter dado muito mais enfoque aos casais, ele romanceou tanto o filme, que os fatores históricos que dão vida à obra se perderam em meio a declarações de amor e o jogo da conquista.
Com relação as atuações, Thiago Lacerda, como Capitão Rodrigo Cambará, me surpreendeu. Não conheço muitos trabalhos do ator e nunca o tinha visto fora da TV, mas ele parece ter realmente se dedicado à composição do personagem, o deixando vívido e se tornando o maior destaque do longa inteiro. O Rodrigo de Lacerda é de uma alegria contagiante, o que combinou perfeitamente com o sorriso e as feições do ator. A Bibiana, dividida entre três atuações diferentes, Marjorie Estiano na juventude, Suzana Pires na maturidade e Fernanda Montenegro na velhice, se perdeu um pouco no foco. Eu esperava uma personagem mais forte e determinada, mas o que vi foi uma mocinha romântica vivida por Estiano, uma mulher adulta um tanto quanto dura na interpretação de Suzana, e por fim, a saudosa de Montenegro. A última, por sinal, foi a que mostrou uma Bibiana com maior paixão, apegada ao amor do passado e relembrando os tempos vividos ao lado do grande amor.
Título Original: O Tempo e o Vento
País de Origem: Brasil
Gênero: Épico / Ficção / Romance
Duração: 115 min
Ano de Lançamento: 2013
Estreou no Brasil: 27 de Setembro de 2013
Direção: Jayme Monjardim
Roteiro: Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas
Produção: Rita Buzzar
Diretor de fotografia: Affonso Beato
Coprodução: Globo Filmes, Nexus Cinema e Panda Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Site Oficial: www.otempoeoventoofilme.com
Ainda com relação ao elenco, Cléo Pires deu vida a uma Ana Terra um tanto estranha. A personagem era para ser símbolo de força, que consegue superar os dramas pessoais em nome da família, acabou se transformando em uma moça solteira que se apaixona por um estranho (Pedro Missioneiro) e com ele tem um filho. Para quem for ao cinema, por favor, me expliquem a cena dela na cachoeira. O Pedro Missioneiro, vivido por Martin Rodriguez, ficou um pouco solto no enredo. Seu papel no livro é de extrema importância, pois é a partir de sua chegada à vida dos Terra que tudo se inicia, mas no filme ele foi relegado ao mestiço que desgraça a vida de Ana Terra.
No geral, o longa acabou perdendo o ar de produção de cinema e se tornou bem novelesco. E eu, sinceramente, não entendi bem as pessoas que foram às lágrimas na sala em que estava rolando a sessão. É um filme bonito, mas não emociona como deveria.
Confira o trailer do filme!
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Gabriela Silva, mais conhecida como Petit Gabi é uma paraense que já morou em algumas cidades, mas que encontrou seu porto seguro em São Paulo. Uma redatora que adotou a escrita como hobby. Amante de livros, gatos, Chico Buarque e apaixonada por redação. Enfim, uma pessoa comum, que gosta de escrever sobre coisas comuns. Mais do mesmo no Só Vim Pra Escrever, seu blog pessoal. @petitgabi