Desde que o mundo é mundo, ou pelo menos desde quando os seres humanos pisaram na Terra, as guerras existem. Sem querer levar esta conversa para um lado religioso, se observarmos os registros mais antigos da humanidade – como a Bíblia -, podemos notar que os primeiros passos já haviam sido em torno de interesses, ódios, disputas, invejas, intrigas e principalmente, guerras e fracassos.
Seres humanos possuem estes sentimentos que são características de sua personalidade alicerçada nos desejos de obter proteção, satisfação, valorização, poder e reconhecimento. Mas até que ponto somos nós quem decidimos quais atitudes teremos no nosso dia a dia e quais seriam as atitudes esperadas para a construção de um mundo melhor? (inclusive, um mundo melhor para a nossa vida pessoal).
A maioria das pessoas não trabalha no que gosta, não levam a vida que sonharam, vivem num ritmo frenético de cumprir obrigações – pagar contas, conviver 12 horas ou mais com relacionamentos interpessoais que superam os limites da inteligência emocional. Tudo isso, sem contar os longos trajetos de deslocamento num trânsito infernal. Não raro vemos pessoas próximas (amigos e familiares) tomando remédios como subterfúgios para o estresse e a depressão.
Nas igrejas, templos e centros espíritas, os espaços superlotados amontoam pessoas que não sabem mais a quem recorrer, na expectativa de que “Deus” (Jesus, Jeová, Buda, Oxalá…) possa aliviar seus dias tão pesados.
Mas ninguém ensina as pessoas que a solução está nas pequenas atitudes do dia a dia, nas ações que tomamos, em como enfrentamos os problemas. A solução que deveria ser uma saída criativa para as crises, acaba se tornando ideais impossíveis de serem conquistados, e no fim das contas tudo se resume em ‘não posso’, ‘se fosse de outro jeito seria mais fácil’, ‘como vou pagar minhas contas?’.
Como bengala emocional, o consumismo impera. Adquiri-se demais, vive-se numa constante busca de aparências, de conforto físico, sem ter como pagar, atolando-se em dívidas para engessar as frustrações e gerando cada vez mais necessidades que impedem o ser humano de buscar o verdadeiro conforto: a paz de espírito. E esta, só se consegue com muito esforço; muitas pessoas só dizem ‘basta’ quando é tarde demais.
Esquecemos que a paz começa dentro de nós. Não será o governo que resolverá nossas mazelas, tampouco os dirigentes espirituais; todos eles resolvem, apenas, os seus próprios problemas.
Os amigos têm seus próprios conflitos, descobrimos que nossos pais já não podem mais nos superproteger do mundo. Bem, estamos sozinhos.
Isso tudo me lembra a história do Pequeno Pardal e o Grande Pássaro – todos ouvem as vozes dos pardais em cima das árvores, mas o que poucos sabem, é que eles estão fofocando. E uma de suas histórias prediletas é contar que, em cima da montanha mais alta existe um Grande Pássaro.
Muitos não acreditam, outros afirmam já terem visto sua sombra. Mas a verdade é que ninguém jamais o viu. A maioria deles reza para o pássaro supremo e ainda têm os “espertinhos” que cobram para receber mensagens do Grande Pássaro, dar bençãos, criar leis e até dar “consultas” a outros pardais.
Um pequeno pardal mencionou que no dia seguinte subiria à montanha para vê-lo. Todos o alertaram que não conseguiria, pois pardais só davam pequenos vôos, e, além disso, a montanha era alta e gelada demais para que seu pequeno corpinho pudesse suportar.
Sem se importar, o pequeno pardal escalou a montanha. Mas eles tinham razão – parecia impossível -, suas perninhas finas e asas fraquinhas não lhe permitiram continuar. Frustrado, desceu até os outros pardais que riram, zombaram, fizeram chacota de seu sonho, um deles colocou galinhos em suas asas e começou a remedá-lo: “eu quero ver o Grande Pássaro”, e assim, continuaram em sua vida medíocre, a fofocar.
Mas o pardalzinho não se fez de rogado e transformou o sonho na missão de sua vida. Sem contar que retornaria, traçou um plano perfeito: todos os dias treinaria subindo de pouquinho em pouquinho à montanha, enfrentando um pouco mais o frio, a fim de criar resistência e fortalecer suas perninhas finas e asas. Nunca mais quis viver como os outros pardais.
Passado um ano de treinamento, ele decidiu que na manhã seguinte seria o dia decisivo, e que encararia chegar até o topo da montanha. Mal o dia começou e o pequeno pardal iniciou sua jornada; suas pernas doíam, suas asas fraquejaram muitas vezes, mas ele mal podia conter a emoção de encontrar aquele grande pássaro que lhe daria bons conselhos e lhe diria como mudar sua vida.
Só faltava mais um monte e o pequeno pardal, entre nuvens geladas, enfim pisou no topo da montanha; exausto, olhou para baixo e alguém pode imaginar o que ele viu?
Uma grande sombra. Foi então, que muito feliz, percebeu que o ‘Grande Pássaro’ era ele mesmo.